
Um estudo recente revela os motivos pelos quais não conseguimos nos lembrar de nossas vidas na infância antes dos 2 ou 3 anos de idade. Se pedirmos para que você se lembre das suas memórias de infância, geralmente, você seguirá uma tendência.
Por exemplo, se lembrará das primeiras experiências na sala de aula, de brincadeiras, eventos em família ou até mesmo de quedas e travessuras. Todas essas memórias são de crianças um pouco maiores. Afinal, porque não podemos nos lembrar de nossas vidas antes dos 2 ou 3 anos?
Todos nós quando pensamos na infância, temos algo em comum. Não conseguimos nos recordar do que vivemos no período anterior a essas faixas etárias. Mesmo as mais marcantes experiências antes desse tempo não são memorizadas por nós.
De acordo com a ciência, a maior parte das pessoas não se lembra das primeiras etapas da infância. Por isso, especialistas consideram esse evento como uma típica perda de memória da infância.
Mas por que isso acontece? Será que a memória é ativada depois dessa faixa etária? Continue a leitura e descubra tudo o que a ciência sabe a esse respeito.
Formação de lembranças na primeira infância
Você já percebeu que não conseguimos nos lembrar de nossas vidas antes dos 2 ou 3 anos. Entretanto, isso não quer dizer que você não formou lembranças antes desse período. A diferença é que essas recordações não estão no formato de autobiografia, como acontece na maioria das vezes.
Com poucas horas de vida, um bebê é capaz de reconhecer o rosto da mãe. Além disso, é capaz de identificá-lo em meio a outras pessoas que ainda não conhece. Depois de alguns dias, os pequenos podem reconhecer também outras pessoas da família ou com quem convivem.
Ao contrário do que acreditamos, guardamos diversos tipos de recordações. Por exemplo, fechar uma janela ou andar de bicicleta é um tipo de memória ativa. Em contrapartida, lembrar de algumas variações de flores se encaixa em outro padrão de memória.
Nos anos 80 e 90 um estudo da psicologia revelou que os recém-nascidos criam diversos tipos de lembranças. Mesmo que eles ainda não consigam verbalizar suas recordações, não quer dizer que eles não as criam. Essa é a chave para entender porque não podemos nos lembrar de nossas vidas antes dos 2 ou 3 anos.
Pesquisa para desvendar o mistério
Para comprovar essa teoria, um estudo teve como base uma atividade simples. Ela consistia em medir a altura dos chutes de um bebê em um berço com um objeto suspenso.
A segunda etapa do estudo foi colocar uma fita presa nas perninhas do bebê e no objeto suspenso. Desse modo, sempre que o bebê dava chutes, o objeto se movia.
Mesmo com sua tendência natural de mexer os pezinhos, eles assimilaram que provocavam uma reação no objeto e gostaram disso. Logo, nessa etapa, eles passaram a dar mais chutes do que na fase em que não havia a fita presa nas pernas.
Os bebês de seis meses a um ano e meio também participaram de uma pesquisa para ajudar a desvendar o motivo de não podermos nos lembrar de nossas vidas na infância antes dos 2 ou 3 anos.
Apesar do mesmo objetivo, ela foi um pouco mais complexa. Em uma sala, com um belo trilho e trenzinho de brinquedo, os pequenos eram colocados junto com os pais de frente para o brinquedo e com uma alça (que poderiam mover o brinquedo) desativada bem próxima das mãozinhas.
Depois de alguns testes, os cientistas deixaram o objeto ativo. De forma que sempre que a criança o pressionasse, o brinquedo funcionaria. Como você pode imaginar, os pequenos gostaram da brincadeira e, cada vez mais, se empenharam em ativar o trenzinho.
E qual a relação desses testes com o fato de não podermos nos lembrar de nossas vidas na infância antes dos 2 ou 3 anos? O mais incrível é que a pesquisadora responsável decidiu testar a memória dos pequenos.
Depois de algum tempo, as crianças retornaram. A ideia era avaliar se se lembravam dos chutes no berço e da brincadeira com o trenzinho.
O resultado foi que as crianças maiores se lembravam mais. E que, mesmo as menores, quanto mais tempo de estímulo com mais velocidade elas se recordavam dos testes. Por exemplo, bebês com 180 dias que brincaram durante 60 segundos voltaram a repetir as brincadeiras após um dia.

Por que não conseguimos nos lembrar de nossas vidas antes dos 2 ou 3 anos?
Você já sabe que os pequenos conseguem criar vários tipos de recordações. Mas porque não podemos nos lembrar de nossas vidas na infância antes dos 2 ou 3 anos?
A ciência não tem uma resposta certa para isso. Logo, não sabemos se não formamos essas lembranças ou se simplesmente as esquecemos. Contudo, existem algumas possibilidades para esse acontecimento levantadas pelos pesquisadores.
Em primeiro lugar, os bebês, em determinada fase, não têm autoconsciência. Isso quer dizer que não refletem sobre suas atitudes em relação a outras pessoas.
Essa é a base para formar lembranças do tipo autobiografia. De acordo com uma pesquisa, bebês de seis meses não têm essa habilidade. Em contrapartida, as crianças com idade superior a essa idade têm pouca autoconsciência.
Outra teoria sobre porque não podemos nos lembrar de nossas vidas na infância antes dos 2 ou 3 anos está relacionada à comunicação, outro elemento fundamental para a criação de memórias autobiográficas.
Até dois anos de idade, os pequenos não possuem um sistema de vocabulário bem definido. Nesse sentido, os bebês não possuem a habilidade de criar uma história com início, meio e fim sobre algum evento que lhes ocorreu.
Mais uma explicação vem da neurociência. Esse campo afirma que na fase anterior aos três anos de idade, as crianças não possuem a área cerebral responsável pelas lembranças totalmente desenvolvida. Isso só acontece mais tarde.
Desse modo, a questão sobre não podermos nos lembrar de nossas vidas antes dos 2 ou 3 anos ainda é um mistério. Contudo, estudos ainda estão em desenvolvimento.
Ainda assim, é fundamental que os bebês sejam criados com todo o cuidado. Afinal, mesmo sem criar memórias do tipo autobiografia, eles aprendem e criam outros tipos de recordações decisivas para as demais etapas da infância e até mesmo da vida adulta.